domingo, agosto 31, 2008





sábado, agosto 30, 2008

cento de canto

3. até ao pretextado (de)(re)(dis)curso da traição.
2. nas palavras se (con)(en)(dis)formam...
1. Voltívolas letras ...



sexta-feira, agosto 29, 2008

Os apófrades

i.
Voltamos sempre
À casa d'outrora
Mesmo que a hera a cubra
As silvas a cerquem
As portas s'entapem
E as janelas
-- lá alto --
Sejam guilhotinas de vidro.
ii.
Voltamos sempre
Ao odor do passado
Ao ranger do sobrado
À carícia ora feita
Ora por fazer ficada.
iii.
Voltamos sempre
E se a vida
Nos arreda do retorno
Se os passos no horizonte
Teimam em se perder
Voltaremos depois
-- como em Atenas --
Os mortos dos dias nefastos.

quinta-feira, agosto 28, 2008

1)
Chove.
Grandes grossas gordas
Bogalhudas
As pingas
Caem.
2)
A terra
Grata
A odor
Fresco
Paga.
3)
O sol
-- do hidro véu velado
Descansa
Nas nuvens
Os raios
Cansado.
4)
E mais alto
-- lá aonde?
Um trovão
Moroso
Regouga
Preguiçoso
A ira
De seu letargo
Acordado.
5)
Os pardais
Abrigam-se
Nos beirais
Pasmados.
6)
O gato vadio
Olha o céu
Assim fendido
E estira-se
De enfado.
7)
Eu...
Na nua cama
O corpo branco
Quente
Acordo
E de um livro
À sorte
Aberto
Recordo-te
Agora -- creio eu --
Liberto.
8)
Uma música
Com coro
Triste
-- Berlioz?
Dá tom
Dá som
E dá quebranto
Ao ar
No canto
Que voa
E m'estremece
A penugem loira
Num vai-e-vém
Que ondula
Já nem langue
Só, porém,
Pardo manto
A cobrir
Num pudor
Lasso e manso
Este antro
De um nédio
Ocioso
E inerme
Tédio
De cal e cinza
Grandioso...

Dicionário Imperfeito - Opera Omnia - AB-L

Este post é dedicado à Velinhas e ao Simão. Letra C - Cães

O meu cão (era) um caniche meio vadio, de feitio tão atravessado como a raça. Mordeu toda a gente em casa e na vila; havia mesmo a profissão a meio-tempo do que se dizia mordido pelo meu cão e que pedia indemnização e acabava num contrato modesto. Outras vezes prendiam-no para o dar por desaparecido e receberem alvíssaras. Era o bicho mais briguento e caprichoso que já vi, e, nas noites de lua, entrava nos lameirais do rio como Popeia nos banhos de leite; ou refoçilava nas carcassas das gaivotas, com expansões de riso homérico, eu que o diga.

A Ilse (Losa) tinha um cão basset que engordou e reluzia como barro de Bisalhães. Esperava-me à porta, no Campo Alegre, e tinha um ar um pouco depreciativo. Pensei sempre que me achava tola. Nunca me ladrou, nem abanou a cauda quando me via. Acho que não dignava informar-se a meu respeito, porque nem sequer farejava os meus sapatos. Os gordos, em geral, são confiantes e não fazem muitas perguntas. Sentava-se na sala, ouvia um pouco as nossas conversas, e depois ia-se embora. Era um céptico com boas maneiras, o que é bastante raro.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Dicionário Imperfeito - Opera Omnia - AB-L

na letra A...

Aquilino Ribeiro

Sempre ouvi dizer que a prosa de Aquilino é rebuscada e, por isso, intraduzível. É uma prosa como uma caligrafia, triste na sua escorreita forma e na sua impecabilidade. Eu imagino Aquilino Ribeiro sentado à sua mesa de trabalho, pondo na escrita um primor que o distraia de pensamentos melancólicos e até cruéis. Imagino-o como um homem de grande dignidade, que são os homens que produzem uma obra para não ter que se descrever a si próprios, em voz alta e na praça pública.
O que é intraduzível em Aquilino não são os termos que usa; é a sua realidade como homem e como versão de homem de muitas paixões e de muitas combatividades.

Guimarães Editores, Lx, 2008.

Adquiri este livro assim saiu e já vos tinha dele dado conta. Porém, ficou a aguardar vez, que chegou hoje, de manhã. Sem detença se leu até à última (307ª) página.
Gostava de ter escrito esta síntese. Saiu do punho de uma enorme Dama das Letras Portuguesas: Agustina Bessa-Luís. A comprar, urgentemente!
Pequenina..., mas decerto, de boa vontade!
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terça-feira, agosto 26, 2008

Morgan's day

O sol a preceito, nem muito arredio nem muito escaldadiço...
Nada melhor que um GB roadstar à moda antiga...
BRG, boa pele connolly e madeirinha de nogueira...
E ala, que se faz tarde, até à Costa Nova, ao Dory (recomendadíssimo!) merendar umas gambas grelhadas e um camarãozinho da costa...
Cabelos ao léu, os velhos clássicos...
(a vida são dois dias!!!)




Aquilino


'Bonecro' feito a lápis 8B, scanarizado e filtrado no photoshop.
Pretende ser a minha visão de AR na década de 30, quarentão, enquanto escrevia O Homem que matou o Diabo.
(clique na imagem)

in Seara Nova, nº 1544, de Junho de 1974 (alvores de Abril), inédito de Aqulino Ribeiro, merecedor de reflexão e transporte para o 'hoje'.
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Seis pássaros míopes e um espantalho tonto.

the red bear


Saravá, Santo Tirso!

bonitos, estes meus ' índios ' , não são?



sexta-feira, agosto 22, 2008

diáspora lusitana

Para higienização neuronial, o autor deste 'sítio' vai a banhos para o interior recatado (haverá um pêgo algures), levando como bagagem mochila de tédio, escova de dentes, calções de banho azuis às riscas brancas, toalha branca às riscas azuis, óculos r.-ban (década de 70) e 2 livros, de tão leves, quase etéreos (não, não são opúsculos).
Até para a semana...

fragmentos


nero romeo

esquivo sol...

de O Guardador de Rebanhos, A. Caeiro

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thunderbird


o pastor de Barrelas




terça-feira, agosto 19, 2008

7 propostas de um texto para 7 leitores















poalha do tempo


segunda-feira, agosto 18, 2008

Seara Nova, Julho e Agosto de 1924

Mão cuidosa nos fez chegar 11 exemplares da Seara Nova, sendo o mais antigo, quase primicial.
Esta Revista nasceu em Lisboa em 1921, por empenho de um grupo de intelectuais oriundo da Biblioteca Nacional.
Ao seu corpo directivo pertenceram Aquilino Ribeiro, Augusto Casimiro, Jaime Cortesão, Câmara Reys, Raul Brandão, Raul Proença, mais tarde, António Sérgio, Sarmento Pimentel, Rogério Fernandes, Augusto Abelaira e outros.
Pelas suas páginas passaram os maiores opinion makers das décadas de 20 a 70, tornando-se um reduto de opinião oposicionista ao regime de Salazar e Caetano.

Chegou-me hoje às mãos a 1ª ed., com dedicatória autógrafa de Aquilino, de Uma Luz ao Longe (1948).
Já tinha a obra em 1ª ed., encadernada. Mas esta tem mais valor afectivo por vir lavrada, no pós-frontispício, por aparo do Mestre.

domingo, agosto 17, 2008


Jardim das Tormentas

Primeiro estudo de capa (Anjos Teixeira) para o livro primicial de Aquilino Ribeiro, Jardim das Tormentas (1913), escrito no 1º exílio em Paris (1908/1914), com o célebre prefácio de Malheiro Dias, que cola ao autor, benignamente, o rótulo de 'regionalista', ainda, nalguns ciclos, inadequadamente persistente e redutor.
Ed. da Aillaud*, Alves & Cª, depois Aillaud & Bertrand, depois apenas Bertrand**.
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* (Júlio Monteiro Aillaud, de Aquilino dizia: "Fui eu que o lancei! (...) Quero-lhe como a meu filho." e o escritor dizia "Foi pela minha mão que Raul Brandão passou a ser editado na casa Aillaud, assim como outros.")
** (Distantes, os tempos da Bertrand de hoje, dos alemães, do Círculo de Leitores.)

Elegia na Sombra, Fernando Pessoa.

Elegia na Sombra, o último grande poema de Fernando Pessoa, escrito a 2 de Junho de 1935 (falece a 30 de Novembro do mesmo ano).
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Estrada de Santiago, Aquilino Ribeiro.

pág. emendada e manuscrita

Revisão autógrafa de Estrada de Santiago - 1922 (que contém a novela O Malhadinhas, publicada autonomamente em 1949, ed. especial ilustrada por Bernardo Marques e em 1958 em ed. definitiva com Mina de Diamantes).

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sábado, agosto 16, 2008

página autógrafa de António Nobre

vide infra texto deste autor
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porque não?

porque não, dum bueiro pardo, rubra rosa?
(escrevi algures num blog, hoje, e aqui bonecro.)

sexta-feira, agosto 15, 2008


le bonet


quinta-feira, agosto 14, 2008

a luz...

quarta-feira, agosto 13, 2008

Aquilino Ribeiro escreve Um Escritor Confessa-se pouco antes de sua morte, ocorrida em Maio de 1963. A obra é editada postumamente em 1974, com data de 1972. Estas memórias findam em 1908, aquando da fuga para Paris, com 23 anos (1º exílio). Prometida estava a sua continuação, da qual, infelizmente, fomos privados. Uma interessante página da obra que nunca veria o prelo, referente à jovem alemã que viria a ser sua primeira mulher, Grete Tiedmann.


"É pois o facto de as formações cristalinas, como o granito, os anfibólios e outras, serem totalmente diferentes de todas as substâncias cuja origem conhecemos, que permite considerá-las efeitos de causas actualmente activas nas regiões subterrâneas. Não pertencem a uma ordem passada; não são monumentos de um período primevo, que tenham inscritas em si, em caracteres obsoletos, as palavras e as frases de uma língua morta; antes nos ensinam essa parte da linguagem viva da natureza que não podemos aprender na nossa relação diária com o que acontece na superfície habitável."

Possessão, A. S. Byatt, Sextante Editora, Lx., Abril de 2008.