domingo, maio 31, 2009

Mas, sejamos positivos...

... se um velho não tem futuro, ainda assim, pode gastar o tempo sobrante de modo algo gratificante.
Há dias, numa consulta vet com os canídeos, disse-me a dra. Rita: "Os seus cães têm 7 anos, logo 49 por relação com os humanos. Estão, pois, na 3ª idade!" Fiquei descoroçoado e quase em pânico com a assertiva elocução. Tenho andado a classificar-me etariamente como um "homem de meia idade". E afinal, bem comparada a "coisa", estou na 3ª! O que não seria muito preocupante, caso houvesse uma 4ª. Mas assim...?!
Então, hoje acordei muito cedo, como de costume, e pensando não ter futuro, decidi que não me erradicariam a memória, ou o que dela resta.
E por assim ser, peguei num carro sem capota, pus o rádio com o som no máximo (única hipótese de ouvir - mal - alguma coisa a partir dos 100 à hora) -» Antena 2 e o bicentenário de Haydn, com muitas sonatas, e fui, deleitado, por estradas de outrora, Vila Meã, Ladário, Travaço, Travacinho, Coucão, Contige, as Donárias... com pouquíssimo movimento e muita árvore ramalhuda e umbrosa, até ao Sátão.
Os documentos escritos existentes, levam-nos a crer que o topónimo deriva de "Zalatane" (docº de doação de 1110 e 1º foral de 1111), e seria o nome de um mouro senhor destas terras. Deu Zaatam --» Çaatam --» Çaataom --» Çataoom -- Satam... (Ufa, estava a ver que nunca mais lá chegava!).
Fui à minha velha casa, às velhas ruas, ao velho jardim onde brinquei, à velha Igreja de Santa Maria onde fui baptizado (está tudo mesmo muito velho!), tirei fotografias às pedras e às portas (de que tanto gosto) e, à laia de conclusão, dei por bem gasto este tempo, nesta revisitação de um passado há muito ido, pelo calcorrear dos espaços de outrora. Deixo-vos imagens...

Pedra com inscrição em latim, junto à parede de minha casa. Banco das amenas cavaqueiras nos fins de tarde de verão.
Carro do filho, à porta da velha garagem dos carros do pai (ainda lá estão 2 DS's parados desde 1985!).

Florão em granito, numa parede lateral da casa.
O corrume do tempo...
Uma das entradas. Inútil.
A entrada do vizinho. Também inútil...
Esta... ainda é útil!
O Igreja Matriz do Sátão, vetusta vizinha, paredes meias...
O meu avô paterno, (des)promovido a rua...
O jardim D. João Afonso de Albuquerque, onde eu brincava e o meu pai me fotografava, incansavelmente.
Os antigos Paços do Concelho e o Solar dos Albuquerques (matriz de todos os Albuquerques da Beira).
(...)


sábado, maio 30, 2009


sexta-feira, maio 29, 2009


A Lengalenga das Pêtas

Minto por preguiça.
E porque deixei de substantivar a verdade.
Qualquer verdade.
Porque ela é fútil fruto de circunstâncias e de actores
E volúvel como um carrossel de feira franca.
Mas a mentira é como uma gata a estirar-se...
Uma volúpia.
E depois, quando me confrontam com diferentes versões da mesma história…
Que prazer, nagalhar as pontas soltas da pêta desastrada.

Minto por gozo.
A verdade é tão circunspecta…
Sisuda, muito geralmente.
Desgraciosa como uma velha nua engelhada.

Minto para combater a degenerescência cerebral.
E ocupar os neurónios em efabulações piramidais,
Erigidas a Osíris.

Minto por convicção.
Porque a verdade é sempre muito provinciana.
Néscia até.
Um affaire de pastores com tédio.
Ou costureiras sem dedal.

Minto por obrigação.
Que a minha verdade é tão ultrajante
Que seria açoitado no pelourinho
Se alguém ma adivinhasse.

Minto por esquecimento.
Julgo que falo comigo
Num anafado monólogo,
E como tenho pouco respeito por mim,
Tendo a esquecer-me das patranhas que me conto.

Minto porque sou um homem de bem

Como os políticos,

Cotado e apreciado, de opiniões acolhidas
E repetidas, até, nas soirées dançantes dos clubes dos viscondes.

Minto por respeito.
Por aqueles que seriam ofendidos
Se eu lhes contasse que não jogo bridge
Com as suas dóceis mulheres.

Minto por paixão.
Que é sempre aquela dor
Sentida por quem sofre de prisão de ventre.
Ou para armar aos eruditos,
Que falam nas vernissages,
De anexite bilateral específica.

Minto porque a verdade é uma merda.
E em latim, merda é merda.
E eu sou um filólogo competente.

Minto porque de tanto mentir
A mentira é uma verdade
Que as senhoras no salão de chá
Ostentam como um broche
Nos galhardos peitos
Sustentados por fatigados corpetes
De barba de baleia.

Minto porque cheguei a uma idade respeitável
E pré-venero os anciãos senis
Que apalpam as ufanas carnes da jovem criadagem.

Minto porque a verdade é uma cinza
Fria, fedorenta e poeirenta,
E Pompeia era uma tia velha e tonta.

Minto porque a verdade é uma cósmica conjugação
De factores tão exógenos aos factos
Que só a sua mais vera endogeneização é
Uma náusea aviltante.

Minto porque sou leal à Carta,
À Constituição,
Ao Dia da Raça,
E fiel às putas que amei.

Minto porque sim.

E minto ainda porque não.

Mas amanhã, quando passar por vocês
E vos disser bom dia, na rua,
Estai certas que o dia é bom.
-- O que quer que isso seja,
Onde quer que ele esteja.
Mesmo que a chuva a potes
Das bocas efusivas
Faça charcos de verão.

Viseu, 28 de Maio de 2009.

quinta-feira, maio 28, 2009

Poeta galego, Celso Emilio Ferreiro

ESCRITO NA PAREDE DO CIMENTERIO

Si os que xacen dentro non poden saíre,
i os que viven fora non queren entrar,
istes rexos muros que coutan as campas
son un monumento da idiotez humán.

in Cimenterio Privado (1973)

quarta-feira, maio 27, 2009

de angelis


Um rangido rasgado do corpo quêdo
-- como a tábua de castanho ao pisar do pé penado.
Possessos, os gatos, laceram-se excitados.

A dor tem cor de sangue.


Ociosas as aves…

Fino é delicado.
Até magro.
Fim é só termo.
O termo lavra-se então.
Chegado o fim, sentou-se numa cadeira cómoda, ao sol, e pensou ser feliz por poder fechar os olhos devido à luz, enquanto o calor lhe lassava o corpo.
Os pardais e os melros perceberam perfeitamente que estava colocado (que é desistir) procurando (que é desejar) estar só (que é desolar), perceberam perfeitamente – como se perdia já – que bastava um gorjeio ou silêncio para testemunhar o pão que a mão infeliz e fatigada havia dado.
E por isso trinar.
De gratidão.
E para a manhã ser plena como uma fêmea e humilde como uma formiga, não lhe chegou ao ouvido voz humana.

terça-feira, maio 26, 2009

um pouco de cor...


segunda-feira, maio 25, 2009

Paulo Quintela

Desde o meu 7º ano do Liceu que sou autodidacta, estudante-trabalhador, ou lá como se diz.
Isso determinou nunca ter vivido, nem com intensidade, nem com falta dela, qualquer tipo de vida académica. Formei-me às 5ªs feiras, que era o meu dia livre, na escola secundária de Barrelas, onde leccionava, desde 17 de Janeiro de 1975.
Matriculado em Direito na UC, fechada aos caloiros a Fac, em 1974, acabei por me matricular em Filologia Românica.
Para lá das praxes, havia, porém, cenas valiosíssimas que gravei para sempre. Por exemplo...
Existia no bar das Letras uma mesa reservada para o Professor Paulo Quintela. Era a mesa do canto direito, onde às vezes se sentava, também, o professor José Oliveira Barata, meu prof de História do Teatro.
O Professor Quintela, germanista, germanófilo, germanófono… (há uma tendência simplista, ignorante e disparatada em associar este conceito ao nazismo e a Hitler, e já ouvi acusarem Aquilino Ribeiro, de dedo no ar, de germanófilo... bom, mas isto é outra conversa para ocasião adequada), o Professor Quintela, dizia, era brigantino e nasceu em 1905. Faleceu em Coimbra em 1987 e teve a sua vida ligada à Faculdade de Letras onde foi catedrático (depois do 25 de Abril…).
Este notável Homem foi o maior tradutor português de língua alemã. De Trakl, a Göethe, Hölderlin, Rilke, Nietzsche, Nelly Sachs, Enzensberger, Bachman… até Brecht, o que existe em lusíada língua de melhor, é da sua lavra.
Chegava por volta das 10:00 no VW (tinha que ser, Volks Wagen, o carro do povo!) cor de laranja com mossas e nicas de norte a sul, de nascente a poente. Estacionava de ouvido, nos últimos anos. E havia profs que só arrumavam os seus carros depois de ele o fazer, por exemplo o Professor Ferrer Correia (Direito) no seu rutilante Jaguar Mark X, cinza rato… e lá subia ao primeiro piso, à sua dilecta mesa, cachimbo na boca, para o cafezinho e tertúlia habitual.
Era um lugar de culto, aquela mesa. E quase valia a pena ir de Barrelas a Coimbra, às 5ªs feiras, para ter o subido gosto de o ouvir por uns minutos.
Tenho quase todas as traduções do Professor Paulo Quintela. Faltava-me a dos Poemas, de Bertolt Brecht. Comprei-a hoje, das edições Asa, na Fnac, por 20,8 euros, com os 10% de desconto. São quase 700 páginas de delírio… Começa assim... o Brecht que traduzo e a censura me retalha, 1962...
Amanhã transcrevo um texto!

domingo, maio 24, 2009

Venho dos serviços de tanatologia do hospital de S. Teotónio. Fui com a esperança de que não me confirmassem o funesto boato da partida de um amigo. O Gil.
O Engº Gil Oliveira, esta noite, às 02:00, na curva de Vilar Seco (Nelas --» Viseu)...
O Gil 'era' um homem dos carros. Mais acelerado que todos nós, vivia sempre acima dos 200... com o M3, com o Porsche Turbo vermelho, com os karts... no fio da navalha.
Aquela maldita curva para a direita, que se faz de corda-eixo quase a fundo, como se fosse uma recta, desta vez chegou para ti e para o Porsche...
Fi-la assim, algumas vezes, contigo.
O piso estaria húmido. Presumo que foi isso que te venceu, Gil.
Serenaste, enfim.
Adeus.

O Sol...

manganão, foi de pouca dura, lesto ensombrecendo o céu, que gratificou terra e audazes com umas belas cordas de chuvas! Bem feito!
Hoje, Domingo, insiste, o persistente, numa bela soneca à sombra fofa dos plúmbeos nimbos, alternados por cinzentos cúmulos.
Está bom, o dia, para recolhimento, leitura, audição dos últimos cd's, etc. Leio, do António Mega Ferreira, A Blusa Romena, título de uma pintura de Matisse, das ed. Sextante (16 E). Teia interessantemente urdida, em torno de Duarte Lobo, um mensageiro intrigante/intriguista e sua vítima, o escritor falhado, Vasco de Almeida França, de amores com Lumena, uma prostituta, também romena, de um bar de alterne lisboeta...

Imagem:
Sepultura antropomórfica no exterior da Igreja de São Pedro das Águias, Tabuaço.
"A lenda das origens do mosteiro de S. Pedro das Águias conta a vida de um eremita, dois cavaleiros e os amores de um deles com uma princesa moura, filha do senhor árabe de Lamego. A primeira menção de S. Pedro das Águias, verdadeiramente cistercience, terá sido em 1205, nas Actas dos Capítulos Gerais da Ordem. "
(foto pn/desconheço a autoria deste texto, mas como as princesas mouras sempre me encantaram... aqui vo-lo deixo à leitura)

sábado, maio 23, 2009

Pronto, chegou o Sol!


Sóbrias...

... estas novas saias. Se a Prevenção Rodoviária Nacional não legisla medidas adequadas, as estatísticas da sinistralidade vão disparar! Como é que um chauffeur pode conduzir, concentrada e serenamente, a 200?!
(Nota: Isto não é para mim, claro, que já mal vejo a estrada, não excedo os 120Km/h, e só na A1, quando vou a Lisboa, ao Jardim Zoológico, de 3 em 3 anos.)

sexta-feira, maio 22, 2009


Toma na mão a água.
Por teus dedos
Caia-me na boca.

Da fonte no planalto,
Do núcleo da terra
À tua mão.

Quebrada
No calor do gesto
À minha boca.

A tua mão
A minha boca
A água.

quinta-feira, maio 21, 2009

Muros

Há um muro para lá do qual não passam as palavras. Um muro retentor dos discursos. Um muro de silêncio onde as palavras e os tijolos, por força destes, intentam diálogos entre as palavras e as coisas. Há um muro onde elas se fundem e ufanas ficam para além da efémera perdição. Se as palavras são irreversíveis e se essa é a sua fatalidade, que a fatalidade perdure para lá da intenção e se esqueçam emissor e receptor primeiros, intenções, e todos os dias se renovem aos olhos que as lêem. Há um muro à porta de minha casa, outro na mesoptâmia, no egipto, no méxico, outro na china... há muros que enraizam as palavras e... ce n'est pas facile, d'être un mur, tout seul. Há muros que dão solidez às palavras e são menos perecíveis que alexandria. No fundo, les murs ont la parole e contam amores e revoluções, exaltações, desânimos, jacentes mortes. Há muros que só foram criados, não para separar o teu ter do meu ter, mas para as eternas confidências...
Há uma história por contar nos muros do meu mundo, e na pedra que te atiro, cavalgo o espaço e a palavra rompe o tempo. E perdura, epígrafe do silêncio.

quarta-feira, maio 20, 2009


a Nadir Afonso


terça-feira, maio 19, 2009

Ontem, no Centro Hípico...


... um movimento que me ficou na ideia e, em casa, esbocei a carvão.

segunda-feira, maio 18, 2009

magma




Verdade de La Palisse

O Tempo que passa jamais se repete
O Tempo que passa jamais se repete
O Tempo que passa jamais se repete
O Tempo que passa jamais se repete
O Tempo que passa jamais se repete...

1. Interiorize esta ideia.
2. Reflicta nela até ter uma forte enxaqueca.
3. Tome uma aspirina. Aliviou?
4. Comece a semana a fazer aquilo que nunca ousou, por medo, cobardia, pejo, virtude e mais centena e meia de inúteis pretextos...

Amanhã será um(a) velho(a) e mesmo que queira fazê-lo já não se lembrará do que era...

Nota: Fala-lhe a experiência!

domingo, maio 17, 2009

Textos idos.

É na ausência total de razão que coordeno com rigor as assimetrias. É no sentimento que nivelo a ausência das lógicas e os absurdos -- qual mesa de carpinteiro que plaina. E as assimetrias moldam-se e desaparecem por instantes, fugazes ou de uma noite, persistem após e nos medos, com a luz e os outros. E assim, relacionamo-nos na geometria equívoca das multiformas facetadas onde nos encontramos, em lados cujas pontas apenas se tocam. É a relação dos extremos ou extremidades. A-circular. Mal unida. Na contabilidade final há défices no ter e haver. E tornamo-nos credores sem crédito, devedores sem dívida, o Paradoxo que existe envergonhado de existir. Por nós e no nosso equívoco.
Julho de 94.
Com graça, irada e revoltada, permites o sulqueio e o saque como libertação.
Com graça, dormente, abandonada, aceitas o torpor, e o louvor, enfim, pétala rubra daquela orquídea faz-de-conta, que deu cor ao jade de teu corpo e à alvura da noite sagração.

Revisitar as origens ceboleiras

(...)
A tia Rita, a célebre adepta do Beira-Mar, que vivia nos Botirões, tinha dois irmãos:
a tia América (em homenagem aos States) e o francês Albert (não me perguntem porque era francês porque nunca vos responderei; é um segredo de família que se vai diluindo de geração em geração até ninguém mais se questionar sobre o assunto).
A tia “USA” teve uma filha. A belíssima, exótica e misteriosa Soledad Naya.
Muito cedo viúva de um comandante da marinha mercante, fizera vida social em Lourenço Marques até vir definitivamente para a metrópole, tendo sido a mulher de toda a vida do Professor Bissaya Barreto e, profissionalmente, directora da Fundação com o mesmo nome, até à sua morte, finais de 80.
Havia em sua casa, na Avenida do Brasil, em Coimbra, quadros de artistas conhecidos que a procuravam para a pintar.
Era sobrinha do meu avô Albert.
A quem vi uma vez, em Agosto de 1962.
Tinha residência em Oran, em Barcelona e em Nantes.
Homem próspero, perdeu muito do que tinha com a independência da Argélia, iniciada em 1954 e concluída em 1962.
Contudo, era daqueles que partilhava da ideia colonialista “L’Algérie est française et le restera”, logo, completamente em oposição ao FLN, Front de Libération National, integrando as fileiras operacionais das tenebrosas OAS, Organisation Armée Secrète, de extrema direita, que em Julho de 1962 atentaram contra a vida do então presidente, general De Gaulle, que apodavam de “O cão traidor”, o que deu origem ao filme de Fred Zinneman, inspirado na obra de F. Forsyth, “O Dia do Chacal”.
Certo é que o avô Albert, que tinha acabado de transferir, em 1962, de um banco de Oran para Barcelona, a desmesurada quantia de 11 mil contos (recordo-me de o meu pai dizer que dava para comprar 200 Mercedes-Benz alta gama), veio a Portugal, pela primeira vez em 30 anos, conhecer os 3 filhos: os tios Alcides, João e minha mãe.
Lembro-me dele, do seu sotaque esquisito, do semblante muito carregado e austero, da bicicleta verde que me comprou e de um longo e três racée carro de matrícula francesa, um Simca Plein Ciel
Não aceitou ficar em nossa casa.
Hospedou-se na única pensão do Sátão, a Império (premonitório nome) e um dia que o visitei no quarto, arregalei-me a olhar a grande pistola e muitas balas que tinha sobre a secretária, e que lesto arrumou numa mala, enquanto me enxotava para fora do quarto.
Não há fotografias do avô francês porque ele não as permitia.
Lembro-me de ter obrigado o meu pai, fotógrafo amador apaixonado, daqueles que andavam sempre com a Leica como hoje nós andamos com a digital, a tirar o rolo da máquina e a inutilizá-lo, depois de o ter captado numa rara efusão afectiva com minha mãe.
Albert era casado com minha avó Florinda.
Era também casado em Oran, onde tinha um filho, argelino, engenheiro civil, que dirigia os negócios de construção familiares.
Era ainda casado em França, em Nantes, onde tinha dois filhos, meus tios, mais novos do que eu.
A miúda chamava-se Yvonne, do rapazinho já não me lembra o nome.
Entretanto, como chegou, desapareceu.
O meu pai, entretanto colocado no Consulat Général de Portugal à Paris (Rue Édouard Fournier, Paris XVIè), tentou contactá-lo.
Usou todos os meios, incluindo os diplomáticos ao seu alcance.
Por mais incrível que pareça, Monsieur Albert não existia, não se lembravam dele no endereço de Nantes, nem havia nenhum documento oficial que provasse a sua existência.
Ainda hoje ignoramos (embora suspeitemos) porque mudou de nome e desapareceu.
Ora aqui está o fio narrativo de uma urdidura que, bem tecida, daria uma bem ficcionada novela.
Soubesse eu escrevê-la!

sábado, maio 16, 2009

Ainda Aveiro...

Exactamente na direcção inversa à que leva o moliceiro, a 50 metros, fica a sede do CETA, Centro Experimental do Teatro Aveirense, que na época tinha à frente o Artur Fino. Fui aos ensaios e apaixonei-me por uma actrizinha amadora, chamada Maria. Apenas Maria. Eu tinha 16 anos, ela 18.
O Cais dos Botirões ou Mercado do Peixe, é hoje uma zona de bares e restaurantes, como por exemplo o Mercantel e, por cima do próprio Mercado, o restaurante com esse nome, agradável para saborear uma caldeirada de enguias. Nesta zona, há muitos anos, teve o pintor Zé Penicheiro uma Galeria de Arte, O Convés, à frente da qual estava a minha conhecida Isa Carvalho, mais tarde segunda mulher do artista. Aqui, a 5 metros da ria morava a minha tia Rita, a minha prima São e a criada Francelina. A velha tia era tão fanática do Beira Mar, que um dia, perante a crise económica que o clube atravessava, fez uma lista dos emigrados USA, meteu-se no avião e foi, por sua conta e risco, nos anos 60, fazer um peditório para os States. E trouxe um saco cheio de dólares. Grande mulher! Sempre que vou a Aveiro, os meus pés caminham para esta zona, como que puxados por uma invísivel corrente, uma raiz, curiosamente tão aquática quanto terreno me creio... e ainda mais bizarramente, nas Terras Altas, caminham para o Planalto da Lapa, junto à nascente do Vouga. E assim se entretece um lógico mosaico, urdido de topos reais, da nascente até à foz.
Ainda e sempre, no seu amarelo tão discreto, a velha ponte de São Roque...
A escassos 100 metros fica a Igreja de São Gonçalinho, que festeja o padroeiro a 10 de Janeiro, dia do meu nascimento.



Os plácidos sábados de um laparoto...

Afinal, o Sócrates parece não ter nada partido. Parece! Só contusões diversas. Ficou internado.
Hoje pelas 07:00, o passeio dos canídeos. Pelas 09:00, o mimo aos equídeos. Pelas 10:00, rumo a Aveiro (minha terra natal) a encontrar-me com o Professor António Manuel Ferreira, Coordenador do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, a prestar minha mais-que-modesta colaboração para "VOLTAR A LER 3", Colóquio sobre a obra de Aquilino Ribeiro, organização da UA e Cª M. de Sernancelhe, que decorrerá nesta vila, berço do escritor, a 19 e 20 de Setembro, com um elenco de prelectores de primeiríssima água. 12:50 rumo à Quinta de Santo António do Rape, Sernancelhe, para almoçar, a convite do meu amigo Fernando Sena, um ligeiro repasto. A25 directo a Viseu, Mangualde, Fornos de Algodres, Aguiar da Beira, destino... 14:05 em ponto. Ufa!
Moliceiro na Ria de Aveiro, o Vouga, que nasce na Lapa, Sernancelhe... no fundo, fiz o percurso inverso...
Agora já não andam ao moliço. Ganham a vida passeando turistas.
As pinturas naïfs da pôpa e proa.
O Canal de São Roque e a Ponte de São Roque, de onde minha mãe Rosa, em miúda, mergulhava para a água...
Cais de São Roque, origem da minha família materna.

O Professor António Manuel Ferreira, que acabou de dar ao prelo "Lusofilias", do qual falarei mais tarde.
Numa varanda da Quinta de Sto. António do Rape ( referida por Aquilino em Lápides Partidas), da esq. para a dta., o anfitrião, Sr. Fernando Sena, o Engº Cartagena, o vereador Dr. Carlos Santos, o Presidente da Autarquia, Dr. José Mário Cardoso e o Chefe de Gabinete, Dr. Paulo Pinto.

Os meus companheiros de mesa, à esquerda o advogado Dr. João Sena, irmão do anfitrião e o Embaixador, Dr. Albertino Almeida.
Os referidos, mais o Coronel Doirado, ex-comandante do RIV.
A Dra. Margarida Sena, à esq. e a Esposa do Comandante Tito de Menezes Almiro.
Da esq. para a dta., Tito Almiro e o seu inseparável charuto (hoje não veio no Bentley de 1956!), Dr. Carlos Santiago Silva, vice-presid. e o Dr. José Mário.
Esta soberba e antiquíssima propriedade, estende-se por 70 hectares de pomar, vinha e castanheiro, na encosta a jusante de Sernancelhe.
Ah! O almoço, já me esquecia... entrada de bola de carne em vinha de alhos, feijoada beiroa, pão caseiro no forno de lenha, torresmos e fêveras com batata nova, arroz doce e cerejas (2 cafés sem açúcar e meio litro de água da mina).
17:30, regresso a Viseu.
Passear os canídeos e... ler o I, O Público e O Sol.
&... acho que vou dormir!
É uma pasmaceira, a vidinha no campo!












sexta-feira, maio 15, 2009

Ele há cada besta!

O Gato Sócrates (o filósofo) foi hoje, de novo, barbaramente agredido.
Pontapeado por detrás, veio agora a veterinária buscá-lo, para lhe fazer raios X e o internar (claro) se tiver a anca fracturada.
Aí há 2/3 meses, partiram-lhe os dentes e uma costela.
Esteve internado 10 dias, e um mês mais em tratamento.
Vai-se a ver, é do nome!
O felídeo adoptou a casa, talvez por intuição.
Vive bem instalado no jardim, por causa da conflituosa companhia dos cães.
É dócil e chega-se confiado às pessoas.
É mais que óbvio que não as conhece.
Como eu, que me afasto delas como o demo da cruz!
Como é que eu lhe hei-de transmitir esse saber?

Mas...

... não haverá forma deste tempo melhorar?