Convite - Revª Literª Câmª Sernancelhe "aquilino" II

(clique, pf.)

Hermann Bröch

"Esta época, esta vida que se desagrega, terão ainda uma realidade? A minha passividade aumenta de dia para dia, não que eu me gaste ao contacto de uma realidade mais forte do que eu, mas porque por toda a parte se me depara o irreal. Tenho a consciência absoluta de que apenas na acção devo procurar o sentido e a ética da minha vida, mas adivinho que este tempo já não tem tempo para consagrar à única actividade verdadeira, à actividade contemplativa do filósofo. Tento filosofar, mas onde encontrar a dignidade do conhecimento? Não se extinguiu ela há muito perante a evidência da desagregação do seu objecto? Não se teria degradado em vãs palavras a própria filosofia? Este mundo sem essência, este mundo sem estabilidade, mundo que já não pode encontrar nem conservar o seu equilíbrio senão numa velocidade crescente, fez do seu movimento arrebatado uma pseudo-actividade para o homem, a fim de o projectar no nada (...)" p.222

"Os Sonâmbulos - Huguenau ou o Realismo", vol.III, ed.70, 1989.

Nota: sublinhado nosso; a foto foi pesquisada no Google, desconheço o autor.

Soutosa - Noite Republicana - (13 Setº 1885 / 2010)

Ontem, dia 13 de Setembro de 2010, festejar-se-ia o 125º aniversário do nascimento de Aquilino Gomes Ribeiro, no Carregal, Sernancelhe.

Ontem, dia 13 de Setembro de 2010, festejou-se o Centenário da República na Casa de Soutosa, com a presença de dois notáveis republicanos: Aquilino Ribeiro Machado e Mário Soares.

O pátio das tílias plantadas pelo Escritor, seu "palácio dos pardais", acolheu uma tenda que albergou largas dezenas de ouvintes, que ali se deslocaram de vários pontos do distrito, para ouvirem os dois notáveis oradores.

Aquilino Ribeiro Machado, contra seu hábito de usar, com muita eloquência, o improviso, leu a sua comunicação. Decerto porque não desejaria dispersar-se da importância do que queria dizer. E falou, no seu modo cativante, erudito e emotivo da República, dos inúmeros republicanos que conheceu e com quem privou de perto, seu avô Bernardino Machado incluído, de Acácio Gouveia, de seu Pai, do tempo das modas das Fundações, daquilo que espera a FAR venha a fazer, agora que se alteraram os seus Estatutos e vão passar a ter assento na Administração os autarcas das Terras do Demo, Sernancelhe, Moimenta da Beira e Vila Nova de Paiva, falou da Educação, em Portugal e do estado lastimoso a que foi conduzida por "tutelas de pacotilha", falou dos mega-agrupamentos que desertificam o País, falou de uma política de números e duma ausência de política de leitura. Foi um discurso a seu modo e jeito: interventivo, actual, intelectualmente sério, desassombrado, corajoso... em suma, conforme aos pergaminhos da sua origem.

De seguida, Mário Soares evocou o advogado moimentense com quem partilhara durante seis meses uma cela, Acácio Gouveia e, "separando as águas" recordou o genial escritor do Carregal. De seguida, bem humorado, desfiou um rosário de histórias da República, dos republicanos com quem conviveu, do momento em que, na Alemanha, soube do 25 de Abril, da sua partida para Paris e do seu regresso a Lisboa...

Ia a noite chegada às zero horas, quando os dois distintos comunicadores deram por finda as suas prelecções. Horas de partirem para Lisboa, estes dois "resistentes", Mário Soares com 85 e Aquilino com 80 anos, a custo deixados pelo público participante, jornalistas e muitos políticos locais.

(Nota: Naturalmente com excepção da 1ª imagem, de A. Ribeiro, todas as fotos, boas e más, são da autoria de Paulo Neto)

Engº Aquilino Ribeiro Machado

Ontem... Amanhã publicarei as fotografias da Noite Republicana, em Soutosa, com o Senhores Engº Aquilino Ribeiro Machado e Dr. Mário Soares.

BTT - Sernancelhe - Rota da Castanha e do Castanheiro

SERNANCELHE - 12º Concurso e Festival de Guitarra Clássica

O Autarca, José Mário Cardos e alguns dos membros do júri, a grega Elena Papandreou, a espanhola Margarita Escarpa e Paulo Vaz de Carvalho
Augusto Pacheco

Andrzej Heimowski e o maestro António Sérgio Ferreira

Decorreu nos dias 9, 10 e 11 de Setembro, aquele que de há 12 anos a esta data, porfiadamente, contra ventos e marés, sem subsídios do aparelho cultural lusíada, se vem impondo no panorama internacional da especialidade, chamando até Sernancelhe guitarristas dos quatro cantos do mundo, jovens concursistas, masterclasses e os nomes confirmados. Durante três dias tocou-se guitarra clássica na terra de Aquilino. Infelizmente, apenas pudemos estar presentes no encerramento, para assistir à entrega dos prémios aos três primeiros classificados, um francês, um português e um israelita e ouvir a Orquestra Filarmonia das Beiras, no Auditório Municipal, dirigida pelo maestro António Sérgio Ferreira e com os solistas Augusto Pacheco e o polaco Andrezj Heimowski, a executar peças de Villa-Lobos - Concerto para Guitarra; Antonín Dvorák - Suite Checa em Ré Maior, Op.39 e Joaquín Rodrigo - Concerto para Aranjuez.

Na sua alocução, o Dr. José Mário Cardoso salientou quão difícil é dar continuidade a um Festival desta envergadura, por ser ignorado pela tutela cultural nacional e pelos próprios medias, acrescentando que é mais um ónus do "interior da interoridade". O Auditório estava esgotado, com um público maioritariamente local, interessado, que não arredou pé antes das 00H00. O evento teve como directores artísticos Paula Sobral e José Carlos Sousa, do Conservatório Musical de Viseu, Dr. Azeredo Perdigão.

NOITE REPUBLICANA - SOUTOSA - 13 de Setº

Do Governo Civil de Viseu e da Câmara de Moimenta da Beira (bis placent repetita) recebemos o convite que aqui deixamos. Dois republicanos de vulto, dois comunicadores natos, Aquilino Ribeiro Machado e Mário Soares, numa Homenagem a Aquilino Ribeiro e Acácio Gouveia, promovida na Casa de Soutosa. Neste dia, comemora-se ainda o 125º aniversário do nascimento do Escritor.

Um "bonecro"...

TSF : O Regresso a Sernancelhe.

http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=1656262

Sernancelhe - 12º Concurso e Festival Internacional Guitarra Clássica

Margarita Escarpa

Elena Papandreou

Paulo Vaz de Carvalho

Menina e Moça

No vol. I das Obras Completas de Bernardim Ribeiro, com pref. e notas de Aquilino Ribeiro e Marques Braga (Livª Sá da Costa, 4ª ed. de 1982) lê-se no cap. III, a pp. 17 e 18:

" não há tristezas nos homens; só as mulheres são tristes: que as tristezas quando viram que os homens andavam de um cabo para outro, e, como às mais das cousas, com as contínuas mudanças ora se espalhavam, ora se perdiam, e que as muitas ocupações lhes tolhiam o mais do tempo, tornaram-se às coitadas das mulheres, ou porque aborreceram as mudanças, ou porque elas não tinham para onde lhes fugir. Cá certamente, segundo as desventuras são desarrezoadas e graves, aos homens, aos homens se haviam de fazer: mas quando com elas não puderem, tornaram-se a nós, como à parte mais fraca. Assim que padecemos dois males, um que sofremos e outro que se não fez para nós. Os homens cuidam outra cousa, mais do que as mulheres não cuidam. Logo costumaram ter em pouco as suas tristezas. Mas se eles por isto têm razão de serem mais tristes, sabê-lo-á quem souber que mágoa é manter verdade desconhecida." (subl. nosso)

A respeito deste extracto, Agustina Bessa-Luís, na sua preciosa obra "Contemplação Carinhosa da Angústia" (2ª ed. Guimarães Edit., 2000): "Este belíssimo olhar por dentro a tristeza, não tem paralelo na literatura. E se cuidam que esta fala pode, em Bernardim, descrever a experiência duma mulher, isso é erro; aquele que é movido pelo mistério que as doutrinas não entendem, esse pode saber do homem e da mulher, 'na sua verdade desconhecida."

Sobre este excerto de BR poder-se-iam verter tinteiros... Outrotanto sobre o escritor. Verdade é que a sua figura misteriosíssima vive envolta numa dissimulação extraordinária. Homem enigmático, pouco dele se sabe, e o que se conjectura pouco fundamento sólido tem de esteio. Agustina, na obra op.cit. escreve: "Em Bernardim há um requinte tão impertinente que pressupõe homem de condição para quem as letras sejam ocupação e não o trabalho; uma espécie de jogo, certo de ganhar, feito ao talento mundano. Suspira e finge com tão perfeita graça que o julgamos sincero das suas invenções. Homem rico decerto, que a fortuna faz a imaginação do sofrimento mais correcta do que a dor sofrida. Não é de repudiar completamente ter sido Bernardim o sobrinho da famosa Beatriz Mendes, judia portuguesa e banqueira triunfal que se tratava de igual para igual com o Grande Turco."

Nota: recordo que "Menina e Moça" foi publicado em Ferrara, no ano de 1554.

Um olhar enviesado pelas manchetes da imprensa nacional

Hoje, comecei a manhã passando os olhos pelas parangonas (palavra de origem espanhola) de uma dúzia de jornais. Ao fim, fui tomar uma aspirina e um kompensan s. Os títulos têm a função de chamar a atenção do leitor. Despertar-lhe a vontade de ler e o desejo de comprar. Reflectem também o que vai pelo país e pelo mundo. Percebe-se que não há muita notícia agradável. E que essas, não vendem jornais. O povo quer panem et circenses, como dizia Juvenal, acerca da decadência romana. Aleatoriamente e sem passar dos gros titres, deixo-vos alguns exemplos:

"Jovem filmada a atirar cachorros ao rio", video com 31.326 visualizações;

"Gestores aumentam salários";

"Rivalidade continua";

"Benfica fechado até Janeiro";

"Desemprego atinge 11% em maio e Junho";

"Pinto Monteiro chamado a Belém esta quarta-feira";

"Governo volta a pôr em cheque desemprego do Eurostat";

"Prestação da casa sobe 16 Euros e deverá continuar a aumentar";

"Lisboa ficou com quase todos os fundos para modernização do Estado";

"Incêndios: mais de 500 efectivos combatem cinco fogos";

""Jovem usa navalha para tentar violar";

"Mértola: Um morto em despiste";

"Lisboa: Rixa faz ferido grave";

"Lourosa: cinco atropelados";

"Menor esmaga mãe contra parede" , video com 12.351 visualizações;

"Arguidos soltos atrasam julgamento de ciganos acusados";

"Marcelo receita pedagogia e calma a Passos Coelho";

"Despedida de solteiro no Pico acaba em morte";

"Alunos esperam por nota desde Março" - curso de Filosofia da U. de Lisboa;

"Quatro distritos de "amarelo" devido a chuvas e trovoadas";

"Moçambique: Entrada principal de Maputo cortada; polícia dispersa pessoas a tiro";

"Tenta incendiar a mulher";

"PSI 20 inverte tendência de abertura e segue negativo";

"Ginecologistas envolvem-se em briga durante parto", video com 14.823 visualizações;

"Súbita enxurrada atingiu arredores de Seia";

"Casal Beckham despede empregados";

"A irmã mais velha de Beckham depende de subsídio de Estado"...

Finalmente, deixo o peso opressivo deste relato de misérias, calamidades, catástrofes e acidentes, leio boas notícias e respiro aliviado --» afinal nem tudo está perdido:

"Beckham compra carro de 321 mil euros";

"Paulo Coelho diz que Jesus era um bon vivant":

"José Castelo Branco diz que é um bocadinho parecido com a Angelina Jolie";

"Não preciso de ninguém para me pôr creme nas costas. Tenho os braços compridos e, com um pouco de ginástica, chego lá sozinha!, afirma uma apresentadora da televisão;

E concluo com mais esta excelente dica:

Um banco simpático está a emprestar a qualquer cidadão, basta mandar um SMS, $$$ até 50.000 Euros, à TAEG de 16,98% e TAN de 13,5%. Óptimo, sempre posso ir de férias para a Caparica!

Porque será que o meu banco só me dá 1 ou 2% pelas magras poupanças que lá tenho depositadas?

Tenho que tomar café um dia destes com o Governador do Banco de Portugal...

ESTAMOS FALADOS! ESTAMOS?

Ou teríamos aqui matéria para apalpar o pulso ao mundo real?

E extrapolar, acerca de cada notícia, um longo capítulo de profunda reflexão?