domingo, outubro 31, 2010

Apresentação da "aquilino", nº2

No dia 29 de Outubro apresentou-se o nº II da Revista Literária da Câmara de Sernancelhe, direcção deste Vº criado Paulo Neto, no Auditório Municipal.
Antes, pelas 18H00, inaugurou-se a Feira da Castanha, no utilíssimo multi-usos, recém-inaugurado pelo Presidente da República. Dezenas de expositores, restaurantes, petiscos, muita castanha, muito brilho, muito cor, muita qualidade e muita competência.
Esta gente não brinca!
Políticos também havia, o Governador Civil de Viseu, o ex-Secretário de Estado das Comunidades, deputado José Cesário, o ex-Ministro da Agricultura, Arlindo Cunha, et all...
E, como é óbvio, os colaboradores da nossa publicação e um notável público que veio (alguns de bem longe, como o Dr. Lima Bastos, autor de "À sombra de Aquilino") assistir, com grande interesse, ao lançamento.
O Professor António Manuel Ferreira, da UA, distinto colaborador desde a 1ª hora, veio (também) em representação do Magnífico Reitor da Universidade de Aveiro, ausente no estrangeiro.
Gente bonita, da esq. para a dta., duas trancosenses, as drs. Amélia Santos e Luísa Gil e a barrelense, dra. Cristina Santos.
Mais gente bonita, a Professora Maria Eugénia Pereira, professora da UA, colaboradora da revista e de outras "andarilhanças" por Franças & Araganças e a simpática filha Celina.
Da esq. para dta, o Sr. Governador Civil de Viseu, Paulo Neto e o deputado José Cesário.
Quem estará a mais no retrato?
Claro que adivinharam, pelo ar embaraçado ostentado, que é o pn, que nem usa gravata rosa nem laranja (embora estas cores, por vezes, se confundam, talvez por culpa da luz interior)!
O Vice-Presidente da Autarquia, dr. Carlos Silva e o Governador Civil, em visita ao certame.
O Sr. Engº Aquilino Ribeiro Machado e o Dr. Alberto Correia.
Um grupo de simpáticos notáveis, em visita à Feira da Castanha.
No uso da palavra, o Sr. Dr. José Mário Cardoso, Presidente da Câmara de Sernancelhe.
O Sr. Engº Aquilino Ribeiro Machado, apresentando a sua magnífica comunicação.

Em cima, o autarca de Jacou, Mr.Renaud Calvat, que encabeçava uma luzida comitiva de quatro dezenas de "jacoumards" e o Dr. Alberto Correia, um dos fundadores do CEAR e sernancelhense da Sazerda, meu professor de História no Liceu Nacional de Viseu, em 72/73.
Na tripla qualidade de representante do Reitor da UA, de colaborador da "aquilino" e de beirão, o Professor António Manuel Ferreira, durante a sua alocução.
Quatro excelentes e harmoniosos momentos musicais, ao piano e ao acordeão, executados por professores da Academia de Música de Sernancelhe.
O Senhor Governador Civil no uso da palavra.
Em cima, Paulo Neto apresentando a "aquilino".
Nas fotos de baixo, dois pormenores da Mesa.


O Sr. Engenheiro Aquilino Ribeiro Machado, finda a apresentação, esteve uma boa hora a autografar a "aquilino", consagrada à obra de seu Pai, respondendo ao desejo dos presentes.
O Menino Jesus da Lapa, que o Escritor refere com tanto carinho...
No sabado de manhã, debaixo de grossas cordas de chuva e rijo vento, levei o Sr. Engº Aquilino, esposa, Sra. Dª Alexandra Oliveira e filha, Dra. Mariana Ribeiro Machado a um passeio por Ferreirim, Fonte Arcada, Vila da Ponte e Lapa.
Esta fotografia chama-se: "O mais bonito casal!"

Nota final: As fotografias aqui apresentadas foram tiradas pela Profª Maria Eugénia, pela filha, Celina, pelo Dr. Carlos Silva e por mim.
Post Scriptum: Os meus agradecimentos a todos quantos estiveram presentes, nomeadamente aos meus amigos e colegas, que não nomeio mas abraço!






















quarta-feira, outubro 27, 2010

Viseu - Encontro Nacional Fiat 124 Spider

Pois foi, decorreu no passado Domingo, 24.
Cá se juntaram, em Viseu, à frente da Domus Municipalis.
Depois, rumámos ao Museu Grão Vasco. Já lá não ia há uns tempos. Pareceu-me mais "pobre", mais reduzido... De seguida, para 46 kms de estrada, passeio a céu aberto até à Quinta de Sto. Estevão, em Aguiar da Beira. Amesandámos consoante as boas regras da "arte".
Ao fim, apaziguados, peregrinámos à Lapa, cada vez mais "artisticamente vandalizada por quem pode e não sabe"...
S. Pedro, que segundo o Jorge (Presidente do Clube) é Sócio-Honorário, zangou-se com tanta andarilhice e começou a "borrifar" (se) em nós.
E lá voltámos às nossas casinhas, em Viseu, no Porto, em Chaves, em Famalicão, na Marinha Grande...
É assim, o Clube Fiat Clássicos de Portugal!
Quem não tem cão caça com o gato.
Pois é, não tenho Fiat. Mas tem o Ten.-Coronel Pedro Calheiros, meu querido amigo.
E lá fui, de co-équipier, no RT-63-09, rutilante e lavadinho para a ocasião! Bravo, Pedro!
Tivemos direito a um curricular Diploma!

Muito bonitos, estes Fiats desenhados por Pininfarina.
Como diz o Dr. Sousa Pimentel: "Os 124 Spider não são Fiat!"
De costas, a simpática Arqª Carla Duarte mirando um exemplar em inúsito yellow primrose.
Tenho que colocar aqui uma foto do recém-restaurado motor do Spider do P. Abranches (senão ele fica invejoso!)
Preparados para tudo!
(Foto de Carla .)
A caminho da derradeira etapa. Estóicos, de cabeça (ainda) ao léu...
Parabéns à Direcção do CFCP!!!
(Foto de Carla .)







sexta-feira, outubro 22, 2010

Apresentação do nº II da revista "aquilino" - Programa

(clique)


CONVITE

(clique)
Todos os presentes receberão gratuitamente um exemplar do nº II da Revista, seguindo-se, no final da apresentação, um Dão de Honra com Castanhas de Sernancelhe.


domingo, outubro 17, 2010

resposta a L.

(sepultura antropomórfica - Fonte Arcada, terra de Sancha Vermuis)
(ceira com pão alvo da Lapa e fálgaros da Tabosa)




Chegado ao lugar sem tempo.
Abre-se a terra e de seu seio de madre úbera brotam miasmas libertos.
Árido, o planalto solta das entranhas um córrego prodigioso de alegria salteada entre lapêdos e lanchas de granito azul.
O frio cai do céu e sobe da terra, armando um véu pesado cobrideiro do sol a meia tarde. Os cem trilhos afluentes são carreirais bordados a giesta tersa e tojo alteiro.
Caminhos cegos e mudos segredeiros da origem e destino.
E na parte mais côncava daquele ermo plaino, as casas, como tocas, castros emuralhados rompem da terra e da rocha em lajões verticais amaneirados ao tosco jeito de mãos sem luxos.
Casas destelhadas ao céu abertas em cruz de torças minadas pelas rugas fundas dos anos, donde se erguem, ainda desarvorados, hirsutos caibrais de ferrugem sangrenta.
As portas sucumbidas nos cambais, das soleiras franqueadas, abandonadas sem cerrar, perdida a mão de abrir e o passo de transpor, cedem à silva de feroz maninha a teia mais urdida que castanho grosso de salgadeira ou prisão de miserável.
Dentro, o mesmo vazio desolado empilhado em pedras perdidas das paredes e do madeirame destroncado.
Sou chegado ao lugar sem presente.
De onde as aves partiram do denso céu, os lagartos fugiram das lapas frias, as aranhas morreram no pasmo da trama, os lobos padeceram à míngua estremecida no uivo da dor finda e os láparos ensandeceram nas luras devassadas pelo nordeste.
Terra sem tempo onde só incólume persiste o passado de atalaia ao regresso.
Lugar para ficar no que esperara, de-seivando ao ouvir da escassa ramaria o picar das chulas ao vento, na penumbra cinza do presente, ao frio da antiga citania onde a chama esforçada a custo luze no borralho brazeirado.
Aí a pele curtirá, sob o burel crestada, no abraço grosso e rudo do cilício do frio.
Aí o espírito enrijará ao jejum ascético de ervaria magra e água leda.
Aí o corpo será, enfim, dado à terra, quando esta se abrir no eixo que é cruz, onde a dor se esgota crua deixando em seu seco vazo a paz da morte veza.

sábado, outubro 16, 2010

angústia


um bonecro


Mittere in bannum ou a privilegiação do território

Não carece de explicação a atitude.
O ímpeto é imparável quando o atrito cede à inércia seduzida por um falcão.
Nem a gravidade toma importância num mundo às avessas, onde a centrifugação se faz, na imobilidade, para o ar.
Pois se decidira abandonar a vida naquele planalto – ora hegung – outros ares, terras e mares eram-lhe provavelmente apáticos.
Porém, em nada dele – corpo e alma – a abulia se instalara.
Incorrera, com um fervor voluntário, de mística missão, olhos cegos e airada têmpera, numa ode infinda, fluida em melopeia de uma garganta ardida por fendidos lábios, a cantar dores do mundo aos incréus.
Demovê-los da insania, libertar-lhes o olhar da poeira crestada das pálpebras, dar-lhes o anil à vista e águas de tétis às bocas.
E só depois, alargada a perspectiva ao mais raso ângulo, superados os cumes do levante, resgataria, sem júbilo mas denodado, a vida então largada.
Tal orate intento aprenha-se em espíritos inquietos, vagueantes de um decénio em busca de um grão de paz e uma areia de sono.
E a recompensa, no coalho do leite caprino, na rudeza do pão ázimo e na paz restabelecida, era o ouro de todos os galeões chamados por neptuno à sombria algidez dos eternos lodos.
Um homem, se com paixão levado, só na perda da dor, esmorece cediço ao espasmo apaziguador, de titã ao anho mais estouvado, encurtando a dómita fereza num adejo breve de estorninho.
E quando, ardores lavados na calda fria do córrego, o lírio, tímido e esbelto, o questiona sobre sua graça, consegue, enfim, o verbo leve de se dizer “sumido”, tal como ansiara, contra a lapa cinza e dura, passento e pois entrado no ancho ventre da súcuba madre, paciente mas de éditos recobrados.
Era a casa, primicial.
Eis o tempo chegado de em quêdo se volver e lacerar espasmos nos ossos quase brancos, pelo lobo esfaimado renegados ao premunir que a fome farta, em esquírola de sílex, traria a morte certa.
Nem o vento, nas noites longas de dois dias, frias e escuras, sarilhado em urzes, urgueiras, tojais e seca galharia, lhe quer pouso nem afago.
...
É sempre encargo de pouca glória mantejado, abandonar a vida em ermo monte, junto à estrela que alumia o sono leve dos falcões.
(Este texto e 'bonecro' são para a Lídia, a única a seguir à de Ricardo, Martinez, parisiana surrealista danseuse da vertigem alada, esbelta aquila sorrindo sobre elíseos sopros...)

quinta-feira, outubro 14, 2010

Senhora do Vencimento

Por cortesia do VM (não sei se a fotografia é dele), publico a imagem que me enviou do local da futura Santa-Padroeira-de-quase-todos-os-Portugueses (exceptuam-se políticos, banqueiros, administradores de institutos e empresas públicas, comentadores, jornalistas afectos à governança e quejanda tropilha). Situada no Alto Douro Vinhateiro, as autoridades eclesiásticas locais, preocupados em oferecer aos crentes dignos e fundos lugares de ofertório, começam já a estudar obras de remodelação e ampliação do eremitério, perante as prevísiveis numerosas peregrinações de promitentes crédulos, que começarão a ser feitas a partir de hoje, dia da apresentação e votação do PEC, na Assembleia da República. Para o efeito, irão apresentar a candidatura à construção de um turismo rural, co-financiado pelo QREN. As associações sindicais reunidas, prevêm a hipótese de protocolar com empresas transportadoras, carreiras directas diárias com saídas do Porto, Aveiro, Viseu, Coimbra, Évora, Lisboa e Faro, oferecendo aos inscritos com as quotas em dia, o direito a uma manhã de vindima e uma tarde de pisa num lagar de conhecida quinta inglesa dos arredores, que já se disponibilizou para o efeito. Para já, o Adalberto das Farturas, a Tininha dos Cachorros e a Candidinha dos Pitos, já deslocaram para o local as três primeiras roulotes de apoio.

terça-feira, outubro 12, 2010

Bernardino Machado (2 perspectivas)

A Câmara de Castro Daire e a Biblioteca Municipal, com sua dinâmica bibliotecária, Dra. Marta Teles Carvalhal, publicaram duas colecções de postais com caricaturas dos presidentes da República, desenhados pelos alunos da Escola EB 2,3 local, orientados pelos seus criativos professores. Excelente trabalho e belíssima forma de ver a nossa História recente. Ainda há vida para além dos "magalhãezes"!



segunda-feira, outubro 11, 2010

A noite de Kafka

A noite.
E a voz da Callas, a operar Ponchielli.
Passo os olhos cansados por Luiz Pacheco, LLansol e Musil.
Indignados.
Por estarem juntos.
Não me fixo.
Nem me quêdo.
(E fico fulo quando o computador se me recusa os sinais.)
O som daquela voz já morta desfoca-me.
Ouvir os mortos neste mimar de dores alheias e dramas de faz-de-conta.
Como todas as ficções das nossas vidas, afinal.
Desconsolo?
Ou gozo do desconcerto.
Atraso a cama onde a insónia me assegura atalaia certa.
Como morangos com alarve suavidade.
A polpa.
Rosa, ou rosada.
Satisfaço aos sentidos.
A audição, a visão, o gosto, o tacto, nestas teclas tão sovadas e o cheiro de mim.
A Casta Diva, da Norma.
Agora.
Um chouto de artes altas num atapetado pinhal.
De caruma que cheira (ainda) à resina.
É um lamento tresvairado que rasga o ar parado.
Os bravôs e as palmas das gravações ao vivo são piores que a tosse seca In mia mano alfin tu sei.
O Luiz faz um minete à Irene que ele sabe vir de f…. com o Fernando.
Um fedor e sabor a esporra meus conhecidos.” / “(um broche por tabela ao F., afinal)”.

este é o jardim que a ausência permite”, acresceria G.

Törless há muito tempo que se recostara novamente. A respiração quente de Beineberg ficava presa nos casacos e aquecia o canto. E como sempre que se excitava, Beineberg deixava em Törless uma impressão penosa.”
, remata Robert que joga à sueca com Kafka, Joyce e Proust.
No glamoroso quarto deste.
O ardor de olhar.
Meus olhos têm mais de cem anos.
E meus ouvidos os sons dos mortos.
Só eu estou a fingir que vivo.
E se não fossem os morangos já não tinha certeza de nada.
Vien diletto, è in ciel la luna.
Gorjeios de estorninho.
Gostava de uma donna a gemer assim, tão afinada.
Ponto (a)final boa noite.

sábado, outubro 09, 2010

Frei Fernando Ventura à Sic Notícias

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/Edicao+da+Noite/2010/10/frei-fernando-ventura-sobre-a-situacao-do-pais02-10-2010-01611.htm

Imagem de Portugal:
"Uma barraca, num bairro da lata, com um submarino à porta."

A formação:
"Somos os limpadores do mundo. Despejamos os caixotes da Europa e do norte da América. Não temos formação para mais."

A pobreza:
"Os caixotes do lixo estão a ser demasiado frequentados."

A educação:
"Estamos a criar gerações de monstros, gente sem memória, gente sem História."
"A mentira colectiva das novas oportunidades."
"Por ironia da estupidez, podemos entrar na universidade sem saber ler nem escrever."

Os políticos:
"Um fraco rei faz fraca a forte gente." (Os Lusíadas)
"Despedir os políticos profissionais para pôr profissionais na política."
"Temos demasiados denunciadores e poucos anunciadores."
"Cultura do penacho, das peneiras e dos títulos."
"Mudar as estruturas podres que nos conduziram até aqui."

A sociedade:
"Cultura do ter pelo ter. Ausência do ser pelo ser, do ser pelo outro."
"Temos vergonha da nossa História. Perdemos a memória."
"Pagamos a factura do peneirismo social."

etc.

quinta-feira, outubro 07, 2010

Tomada de posse do Director da ESEN

Hoje, pelas 18H30, o Conselho Geral da ESEN formalizou a posse do recém-eleito Director, o Dr. Paulo Viegas.
Aqui, no decurso da sua alocução.

terça-feira, outubro 05, 2010

Três gerações de Republicanos

Bernardino Machado

Aquilino Gomes Ribeiro

Aquilino Ribeiro Machado


Os portugueses descobriram a República.
Já idosa, decrépita até. Mal tratada, abusada e violada.
A moçoila alentejana, a Ilda (Puga?), que lhe deu rosto, é pó. São cinzas todos quantos a ergueram.
Porém, se centenária, não esqueçamos que a monarquia a que pôs termo, com altos e baixos, ora troando em altivo galope, ora claudicante de todos os anquilosados membros, durou oito séculos.
Neste ano de 2010, do seu Centenário, as comemorações, um pouco por toda a parte, capitaneadas por um excelente Comissário, fizeram-se sentir. As gerações mais velhas, que a festejaram quase clandestinamente, rejubilaram. As intermédias olharam-na com algum espanto e até condescendência. As mais novas descobrem-na. E só por isso, tudo valeria a pena, das mais edificantes palestras ao mais naïf foguetório.
A indústria e o comércio, por grosso e atacado, esfregam as mãos. Não é o Dia da Mãe, nem dos Namorados, mas é o Dia da República.
Pins, bustos, sabonetes, postais, bigodes republicanos, malas de mão, faiança, relógios comemorativos, cinzeiros, cubos de fotografias, tee-shirts, malas de viagem… a República teve o seu 5 de Outubro.
Mas há uma área que, exaltante, se excedeu: a livreira… Dezenas de historiadores, quarteirões de escritores, centenas de escreventes, saíram à liça ostentando seus dotes hibernados de aliar o consumismo à efeméride.
Não importa! Por uns mal tratada, por outros, um século ignorada, por poucos sentida, vivida e acarinhada, ela está aí.
Pena é que as últimas governanças a tenham deixado sem lenço nem túnica, como Salomé, a 1ª stripper , de tanga ou já nem com ela, como Eva maculada, de parra crestada pelos últimos vendavais.
O Zé Povinho, do Bordallo, esse, menos nédio de bochecha, está mais forte no manguito e doído do corpinho tão bordoado.

Deixo aqui a minha homenagem a um Republicano convicto e assumido: o Senhor Engenheiro Aquilino Ribeiro Machado, neto do duas vezes Presidente, Bernardino Machado e filho do maior escritor português do século XX, Aquilino Gomes Ribeiro, que pela República tanto pugnaram e tantos exílios sofreram, tendo o próprio Engenheiro Aquilino nascido, no decurso de um deles, em Baiona, França, a 6 de Abril de 1930.
Para mim, ainda representa os ideais puros, primeiros e únicos deste Centenário…
Os outros, bem os outros, na sua gorda maioria, à portuguesa, só perceberam que estas Comemorações da Efeméride, são uma ancha árvore de patacas!

domingo, outubro 03, 2010

A Lengalenga das Pêtas

Minto por preguiça.
E porque deixei de substantivar a verdade.
Qualquer verdade.
Porque ela é fútil fruto de circunstâncias e de actores.
E volúvel como um carrocel de feira franca.
Mas a mentira é como uma gata a estirar-se.
Uma volúpia.
E depois, quando me confrontam com diferentes versões da mesma história…
Que prazer, nagalhar as pontas soltas da pêta desastrada.

Minto por gozo.
A verdade é tão circunspecta…
Sisuda, muito geralmente.
Desgraciosa como uma velha nua engelhada.

Minto para combater a degenerescência cerebral.
E ocupar os neurónios em efabulações piramidais,
Erigidas a Osíris.

Minto por convicção.
Porque a verdade é sempre muito provinciana.
Néscia até.
Um affaire de pastores com tédio.
Ou costureiras sem dedal.

Minto por obrigação.
Que a minha verdade é tão ultrajante
Que seria açoitado no pelourinho
Se alguém ma adivinhasse.

Minto por esquecimento.
Julgo que falo comigo
Num anafado monólogo,
E como tenho pouco respeito por mim,
Tendo a esquecer-me das patranhas que me conto.

Minto porque sou um homem de bem
Cotado e apreciado, de opiniões acolhidas
E repetidas, até, nas soirées dançantes dos clubes dos viscondes.

Minto por respeito.
Por aqueles que seriam ofendidos
Se eu lhes contasse que não jogo
bridge
Com as suas dóceis mulheres.

Minto por paixão.
Que é sempre aquela dor
Sentida por quem sofre de prisão de ventre.
Ou para armar aos eruditos,
Que falam nas vernissages,
De anexite bilateral específica.

Minto porque a verdade é uma merda.
E em latim, merda é merda.
E eu sou um filólogo competente.

Minto porque de tanto mentir
A mentira é uma verdade
Que as senhoras no salão de chá
Ostentam como um broche
Nos galhardos peitos
Sustentados por fatigados corpetes
De barba de baleia.

Minto porque cheguei a uma idade respeitável
E pré-venero os anciãos senis
Que apalpam as ufanas carnes da jovem criadagem.

Minto porque a verdade é uma cinza
Fria, fedorenta e poeirenta,
E Pompeia era uma tia velha e tonta.

Minto porque a verdade é uma cósmica conjugação
De factores tão exógenos aos factos
Que só a sua mais vera endogeneização é
Uma náusea aviltante.

Minto porque sou leal à Carta,
À Constituição,
Ao Dia da Raça,
E fiel às putas que amei.

Minto porque sim.

E minto ainda porque não.

Mas amanhã, quando passar por vocês
E vos disser bom dia, na rua,
Estai certas que o dia é bom.
-- O que quer que isso seja,
Onde quer que ele esteja.
Mesmo que a chuva a potes
Das bocas efusivas
Faça charcos de verão.

Viseu, 28 de Maio de 2009.

sábado, outubro 02, 2010

A Escrita da Imagem

Se a imagem vale dez mil palavras, no dizer milenarmente sábio dos chineses, por quê escrever sobre a(s) imagem (ns)?
Para uns, a escrita é o substituto degradado da palavra, simbolizando a perda da presença: a escrita chega quando a palavra se retira e permanece como símbolo da palavra ausente.
Jean Lacroix escrevia sobre a escrita --» um esforço secundário e perigoso para reapropriar-se simbolicamente da presença.
Os chineses conferiam à escrita um valor tão grande que a caligrafia superou, por exemplo, a pintura.
Para eles, a sua escrita figurativa, essencialmente simbólica, deve ressumbrar todos os elementos da linguagem, sonoros e gráficos, ritmos e sentenças, destacando a eficiência do símbolo, para expressar o pensamento, impondo o sentimento de que exprimir não é evocar, mas sim realizar.
Ademais se sabe que a língua chinesa falada tem variações de intensidade e entoação da mesma frase que pode alterá-la até significar realidades muito diferentes e mesmo completamente antitéticas.
O que é escrito é fixado definitivamente, daí, entre outros, o seu carácter conservador por oposição à dinâmica transformacional da linguagem falada.
Escrever sobre o corpus captado por uma objectiva, sobre a imagem pintada, que valoração ou mais-valia lhes concederá?
E se, em simultâneo, usássemos uma linguagem mais plural, em que a imagem e a escrita se enliçariam numa escultura de significação(ões)?

Estes pontos aqui esquissados ao sabor breve de uma inspiração fortuita poderão ser mais longe levados.
Vamos tentá-lo.
A escrita é redutora se for só denotativa e não se eivar de polissemias.
Se a escrita veicular representação (ões) de valor conotativo, perderá a linearidade sintagmática e ampliar-se-á nas ‘tergiversações’ paradigmáticas.
Hesitação/Decisão essência das transgressões.
No entendimento de fuga à norma.
A escrita, assim obliquada, como que a escorregar travessa da linha direita que a enfileira, é tão valiosa como a imagem, pois passível, como ela, de enfoques e/ou perspectivas várias.
De milhentos ângulos, mesmo.
‘Mileangular’.
Contudo, a imagem atrai de imediato (ou repele) na sua apresentação espectacular.
A imagem, enquanto representação policromática (mesmo o preto e branco tem gradações várias de tom, os cinzas, p.ex.), tem profundidade, tem planos, tem, à evidência, representações do real (ou do irreal) que a escrita (con)figura, mas de modo menos evidente, sim de forma mais críptica.
Toda a escrita é código, todo o código carece de descodificação para ser perceptibilizado.
Mas e a imagem, não é também código?
Claro que sim.
Claro que não.
É imediatamente observável.
É espectáculo puro, representação primeira (primária?).
A escrita não colhe nessas facilidades a adesão do spectator.
A prática epistolar, tão em desuso (re-novação) nos dias de hoje, conferia à palavra a presença do(s) ausente(s).
E de forma lenta.
Hodiernamente, a escrita re-envia-se à velocidade da palavra dita.
Posso usar qualquer meio do tipo messenger para escrever e ser emissor receptor como se de um acto de oralidade se tratasse.
Em termos cronológicos, claro.
E que concluir dessa alteridade?
Pelo menos, que também a conservadora escrita volveu veloz ao encontro atempado do frenesim da época…pelo menos…
Lacroix conferiu-lhe a perigosidade na apropriação da presença.
Como assim?
Perigoso é o que constitui uma ameaça, que põe em risco a integridade física de uma pessoa ou a existência de uma coisa.
Mas também, que envolve risco, que é susceptível de fracasso ou de insucesso.
Ou ainda, que não merece confiança e é capaz de causar dano ou prejudicar.
Logo, as palavras escritas, para o citado, pela sua fixação, ausência de emissor, testemunho inquestionado, variedade de interpretação, são um ameaçador perigo ou uma perigosa ameaça.
Talvez.
Os chineses, talvez também por isso, pela forma figurativa, pictográfica da sua palavra, culminavam-na de importância.
Mais lhe concedendo imagem expressiva e até emotiva.
E porém, decidiram que uma imagem vale mais do que dez mil palavras.
Ou será que as palavras são tão plurivocamente perigosas que uma imagem, na sua imediata representação, não proporciona tanto risco?
E daí o seu valor (benefício?).
Sabemos ainda, que apesar do valor que era por eles concedido à palavra escrita, esta só atingia a plenitude expressiva através da sua fonética, através da entoação/intensidade…
E parece-me que rolamos como seixos em leito lento de córrego, de antítese em paradoxo.
Será?
Pois que seja!
E que seja ainda um botar à terra de sementes para colheita pródiga, em termos de reflexão.
E retornemos ao incipit : A escrita da imagem.
Não será adir a uma imagem um texto (e porque não vice-versa?) reduzi-lo (a)?
Tirar ao spectator / leitor, a sua capacidade de enfrentar sozinho o caminho, e chegar?
Será a adição redutora?
Ou facultativa, para os mais desatentos, para os mais relutantes à descodificação, de uma mão cheia (a do semeador?) de pistas, de sinais (de alerta?), de vias para a riqueza do metatexto?
O horizonte atrás do horizonte?
Este texto (infra texto), é nem mais que uma reflexão, não em voz alta mas de vivo texto.
É uma sucessão de hipo teses.
Daqui se abra a discussão e acedamos a convertê-lo em tese de alguma coisa, nomeadamente, da relação íntima (e inseparável?) da escrita com a imagem, forma talvez herma afrodita que alguém, algures, por sensatez (?), sabedoria ou cruel perfídia, dividiu ou des con juntou…

Paulo Neto
Viseu
16 de Outubro de 2006

Lacrimosa



1. Há uma voz incessante. Um córrego de inverno. Rumoroso de palavras antigas. Com sons novos. Límpidos. Polidos de leito. E aos seixos murmura mistérios da fonte do fundo na terra onde as torgas se esfiapam em artérias de seda. O núcleo. Onde do fogo brota água. E da água brota fogo. O núcleo da comunhão. E essa voz. Que ouço no dia e na noite me conta o incontável em idioma que desconheço ciente só do som. Harmonia. Cadência. Ritmo. Rima que mexe raízes de teixo. E agita a cauda da truta. E baila gaiata nas alpoldras há séculos irrompidas dos pés cuidosos em não pisar águas onde as pontes não são aladas. Voz.

2. A voz. Que me circula e me contorna. A voz que torna. Um arauto de outrora. Uma noite de medo. Uma angústia de vento. As folhas e a toca do castanheiro no extremo do avelanal. A pele casa de castanho soerguidos os braços em cruz e os olhos fechados transpirando terra por meus poros. A voz presente da fraga afagada e do estrénuo limo franzino. Há sons muito antigos e guturais em busca do polimento tal seixo. Ou tal veio do granito azul sob o musgo. E sons de louvar e de gritar. Exorcismos. E a voz da vida grita. E a voz da vida louva. E no grito te louvo e para louvar-te grito. A voz múrmura que ecoa no bosque e na seara. E é canto de condor dos cumes e pio da coruja dos baixios. E riso de duende. E raio de lua. Voa. Voz.

3. Escuto-a todo. E sinto afago e estímulo. Das alturas. E do achego do vale que estreita. Do barro branco da giesta e da águia dançarina. A voz da vertigem. Relutante e sacudida. Decidida e fluida. Espiral de sons. De outras eras e consoantes. São as palavras da pedra da terra. Os sons em que me dobo a tear. A voz. De espuma. De angústia e riso que não refreiam o golfar. E há lírios nessa voz. Hoje lírios. Amanhã teixos. E no covo em que o córrego se mais funda há vozes sombrias e longínquas portadoras das perdidas areias do seixo já de menos perfeito. E a voz escorre. E à noite corre mais silêncio afora. No sono redemoinha camarinhas de suor cansado. E julgo ouvir-te e tento ouvir-te e quero ouvir-te nos sons de quando ainda tinhas corpo. E rosto. Quando hoje sem corpo se perde o rosto. E são vozes a gesto desenhadas apartando o ar e te adejando as pálpebras. O som do gesto. A voz do gesto. O rosto do gesto a voz. A gesta. Voz.

4. Não hei-de perder-te voz. Em ti me embalo. Cântico matricial. Com anáforas renovadas. Ciciadas. Sons confluentes aqui convocados em função essencial. Íntegros. Falas em mim hoje todo o passado em vozes tão plurais que baralham as palavras numa lengalenga perene e incansada. Oração una. Unívoca voz. De monges em milenar convento. Vozes centenárias e às centenas. Rodopiando preces nas celas estreitas brancas na ogiva da nave no campanário dos carrilhões nos claustros longos frios soturnos onde os pássaros pousadas nas oliveiras chilreiam loas aos reis jacentes. Não ouço a tua voz. Nunca mais me chegaram sons da tua voz. E tanto tento deles me lembrar. Nem o ai de alegria me acomete. A voz. A voz essencial. A voz teu espírito e tua imagem teu corpo. Perco tudo. Agoniada perda. Tanto quanto não lembro ninguém presente. E creio serem tão poucos. Já tão poucos. Os presentes. E os ausentes persistentes embrumados indistintos riem no vazio. Voz.

5. O riso é voz. Hoje sei porque te não ouço o riso. Naquele dia que teu corpo se alquebrou e foi. Fiquei para te adornar a nudez. Na sala branca onde tudo era prata. Os armários com os gavetões de corpos sem rocas de alfazema. A maca. As ferramentas. De oficina de corpos sem conserto. E o homem cinzento enquanto eu te penteava engordou-te com levíssimo algodão. E colou-te os lábios num sorrir colado. Não ouço a tua voz por causa do algodão e da cola. E as outras vozes que não ouço e todas aquelas que ouço. Seladas até à corrupção da carne. E os ardidos com um hálito quente. O hálito faz perder tanta voz. O hálito macera a voz. As vozes das litanias dos vocalizos e gritos que me atordoam. Inquietas vozes. Suplicantes. A voz. Que me chama chama. Urgente. Persistente. A voz que ordena e me manda ir por ali. A voz do erro e da razão. A voz da intriga rumoreja. A voz que fixa. A voz. Sarilheira voz.

6. A voz sobreposta aos sons. Aos ruídos. A voz companheira da madrugada. Do dia. Da noite. Da viagem. Sobre óperas se soergue em grito ou choro. Rouquido ai. Para lá de todo o canto belo. Voz companheira que tanto me falas. Me falas por todas as bocas. Todas as línguas. De tantos tempos remota voz. A voz. Que distrai. Atrai. Retrai. Voz bridão. Voz esporim. No flanco do som fremente e cálido. Voz do espasmo. Do nervo que retine e vibra. Do não. Voz do sorriso e da esperança. Da lua. Força e fé. Voz que nega e cega. Voz que ecoa. E há uma voz mais branca que as outras vozes. Albina voz. Que atropela as vogais e as entala com força nas consoantes em estalidos de estímulo e chamada soados a cântico de áfrica. Com areia e sol e noite. Voz que raia. Alba escarlate. Voz.

7. A voz. Que ruge e afia as garras de marfim na pedra. E no lume. Voz que voa olhada. De lince em águia. Voz quente como o deserto e teu ventre. Voz fria como a estepe. Voz de cascos e tropéis. Voz de gritos a arrenegar medos na ponta da lança erguidos. Voz que corre. Voz que voa. Bruta e fera. Voz que choca cota e elmo. A voz que geme. A voz que esvai. E treme. Pai.

8. E na prega mais negra e densa da noite. A voz. Pilão. Martela. Voz que bate a rebate. Esmói. No acto desobrigado. Ciente voz de erro e falta. Faca ríspida. Voz de açoite. Voz que tece e sereia. Voz do mar. Que me falas e faltas. Voz.

9. Espuma e franja. Voz. Balsar de náufrago. Soluço de viúva. Negro xaile de Maria. Gota caída no ar. Onda no mar batida. Capela de dor caiada. Nuvem. Voz azul. Fria. Que repuxa e rapina a força. Cediça voz. Rompão na maré que esgaça. Âncora no lodo rota. Voz que troa. Voz que mata. Voz que voa. E fixa. Grita. Voz.

10. Voz que prendo. Voz que ato. Voz que fecho e nesta escrita teço. Voz que luta e revolteia. Estrebucha e pontapeia. Voz. Voz que domo. Me doma. Voz que dano. Voz do dono. Voz humano. Humano grito. Humano voz que finto. Voz dos arabescos e romanos. Voz que escrevo e escrava nua quedo. Em branco. Voz que guardo e entesouro. Voz que te reservo. Neste vaso. Nesta ânfora. Neste líquido. Voz legado da escrita cativa. Alforria. Alforria. Te deixo voz. Aqui. Para seres ouvida. De viva escrita. Voz.

busca a luz


zicar...


sexta-feira, outubro 01, 2010

E quando, enfim, ao leito chego...

... moral da "coisa": nunca o devemos deixar por muito tempo!