terça-feira, dezembro 07, 2010

Par ódia


I.
O enlaçar do nó:

(De sol a sol) lábeis olhos te assestam insistente e penetrante (a questão). Esfíngica te encerras (no mistério da pedra). A areia voa (em teu torno milhões de grãos). Vem a noite (e o frio) e tu repousas. De tua boca, o (leve) suspiro, arrastado (e ténue), se ensarilha (na escuridão). A alvorada repega-te (e à luz te re-expões). E de novo os lábeis olhos (te miram), ausentes (ainda) da questão irrespondível. E será assim (por muito tempo). Não há pergunta (nem resposta). Inauditas, (ambas) se silenciam. (Só) o olhar penetra na pedra. (Sofrido do saber) que o ilumina. Grito nas areias (que em teu redor dançam como véus tapadores da nudez exposta). Contragosto do acto (e efeito do feito agora na pedra rilhado).

II.
O desenlaçar do nó:

Esperei-te (tanto). Fiz da espera ascese (e esqueci sua causa). Agora que vieste, perdi culpa (e mácula), e nesta (inesperada) pureza, meus braços não se erguem (para te acolher). Meus olhos não te reconhecem (e só o riso me ecoa de outrora). Expuseste a nudez (de um seio). (Quase). Mexeste (muito) com as mãos. (O ar). Roucamente (dispensaste) o corpo. (Em vão). Na distância, (alheado), li os sinais. (Impávido), travei a comunhão. O tempo (que demoraste)

III.
Reditus ad rem:

Que fruto teu furto deu (que não chegaste a comer)? Que tentação (te perdeu)?